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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Carta do cacique Seattle ao Presidente dos EUA: Uma carta de 1855 vaticina o futuro ecológico da humanidade.





Quando ainda estava na faculdade de Direito levei uma porrada na cara quando minha professora de Direito Civil, que ministrava aula sobre posse e propriedade nos leu uma carta de um certo cacique Seattle, da tribo Suquamish endereçada ao Presidente dos EUA em 1855. Essa carta dizia respeito a sua posição referente a intenção dos EUA em comprar as terras dos índios. Sem demagogia rala, o interessante nessa carta não é apenas a sabedoria da carta em si, mas também a forma diferente de pensar que ela nos traz, e a lógica incomensurável que bate dentro de nós como uma verdade há muito esquecida. Não sei quanto a vocês, mas a impressão que tive (e tenho) ao ler tal carta é de que vivemos num mundo falso, irreal, extremamente infantil e fantasioso em que tendemos a ignorar outras formas de pensamento e filosofias que não se enquadram no nosso meio de pensar e viver e queremos moldar tudo que existe a nossa volta, até mesmo aquilo que é alheio ao nosso mundo, que não compreendemos nem bem para que serve, ao nosso ´quadradinho´, ao nosso mundinho fechado. Enfim, depois da leitura da carta, a professora (bem me lembro do nome dela, Martha) continuou sua exposição sobre a Teoria de Ihering, e como a posse é adquirida pelo ´ter aparência de dono´, voltando assim ao real mundo do irreal... Eis a carta:











"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.


Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.


Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.


Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.



Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.


Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.


De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.


Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."




8 comentários:

Silvio/Deghust disse...

Passando para uma visitinha básica. Ficou muito bacana a parte superior do Conspiração. Bom 2010!!!

Editor da Caverna disse...

Obrigado Silvio, vou desejar um bom 2010 para vc também, mas lá no teu blog!!!! Abração e não suma!!!

Gisele Resende disse...

Gostei muito deste seu post. Parabéns! hoje estamos vivendo sobre muitas reflexões. Pensamentos que nos fazem ir a longe e ver o quanto estamos perdendo....

obrigada pelas palavras no meu blog. É isso aí repensar tudo que estamos vivendo!

beijos

Gisele

Daniel disse...

Eu não lembro dessa aula!!! rsrs

A sabedoria desses povos sempre foi mais voltada pra valorização do meio ambiente e menos pelas coisas materiais. E o homem branco acabou com quase todos eles.

Vai entender o mundo. Aqueles que se julgavam certos estavam errados. E os que estavam certos foram banidos.

abs

Lis. disse...

Bom dia...

Fico consternado em saber que somos descendentes dos invasores devastadores. Lembro que li -faz muitos anos atrás- o best seller: "Enterrem o meu Coração na Curva do Rio" e numa das passagens um chefe indígena pergunta ao presidente dos E.U.A. se o homem branco cuspiria em suas terras caso fossem vendidas.

O presidente lhe pergunta: Por quê?

E o índio responde: Quando eu vinha para cá vi gente pelas ruas cuspindo no chão. A nossa terra é um solo sagrado onde estão enterrados nossos ancestrais.

Vocês farão o mesmo lá...?

Isso é muito triste!


ps. Bom começo de semana pra ti!!

O Árabe disse...

Uma palavra: fantástica! :) Boa semana, meu abraço.

Anônimo disse...

No próximo dia 27 de janeiro milhões de pessoas em todo mundo, em especial Judeus, param para lembrar as vítimas do Holocausto.

Nesse dia, há 65 anos, soldados soviéticos libertavam os prisioneiros de Auschwitz, grupo de campos de concentração ao sul da Polônia, onde foi covardemente exterminado cerca de 1,1 milhão de pessoas, a maioria Judeus europeus.

Não deixe esse dia passar em branco. Para lembrar e homenagear as vítimas convido todos os blogueiros a colocarem uma Estrela de Davi em seus blogs.

Abraço

Anônimo disse...

Poxa,texto grande ^^"!
E sobre política ^^"!